Com o novo acordo ortográfico muita coisa irá decerto mudar na língua portuguesa. Talvez não aconteça no futuro mais imediato, mas será inevitável.
Hoje em dia escreve-se com uma quantidade de erros acima da média (ou os suficientes para muita gente estar a dar voltas na campa) e a influência da internet e SMS na qualidade dos enunciados dos jovens da nossa pequena nação é evidente demais para ser ignorada.
Talvez seguindo uma máxima que se pauta pelo facto (ou fato) de ser mais fácil juntares-te aos analfabetos do que propriamente corrigi-los e educar melhor as futuras gerações, o mundo lusófono terá efectuado umas quantas reuniões e decidiu acabar com a língua portuguesa tal como a conhecemos. Sendo que os brasileiros são muitos e ganham aos portugueses, optou-se por dar um toque canarinho ao português e tirar uns quantos "c" que estavam a mais em certas palavras e outras coisas que tal.
Por um lado eu percebo, com uma língua mais homogénea poderemos ir mais longe e, visto que o Brasil está mais perto dos EUA, é um mercado em crescimento a todos os níveis e muito do software actual ter versões em brasileiro mas não em português, este parece um passo lógico. No entanto, não deixa de ficar no ar um sentimento de injustiça, como se nos estivessem a roubar parte da nossa identidade sem ninguém nos ter perguntado antes.
Muito provavelmente, outros portugueses terão sentido o mesmo em alturas diferentes da nossa história e sempre que foi necessário actualizar o dicionário português. Mas penso que esta "actualização" será sem dúvida forte demais, vincada demais e um ponto que já não terá retorno.
Resta-nos a satisfação de os "k" ainda não substituírem os "q" e "x" os "s" ou seja lá o que for. No entanto, e com o andar da carruagem, provavelmente isso também estará para breve. Já não me chocaria assim muito.
Por mim irei continuar a escrever como aprendi na primária.
Fica desde já uma possível versão de um dos grandes clássicos de sempre, mas numa versão de 2058. Será um dia triste.
Capuchinho Vermelho (Versão Acordo Ortográfico de 2058)
"Tás a ver uma dama com um gorro vermelho? Yah, essa cena! A pita foi obrigada pela kota dela a ir à toca da velha levar umas cenas, pq a velha tava a bater mal, tázaver? E então disse-lhe:
- Ouve, nem te passes! Népia dessa cena de ires pelo refundido das árvores, que salta-te um meco marado dos cornos para a frente e depois tenho a bófia à cola! Pá, a pita enfia a carapuça e vai na descontra pela estrada, mas a toca da velha era bué longe, e a pita cagou na cena da kota dela e enfiou-se pelo bosque. Népia de mitra, na boa e tal, curtindo o som do iPod... É então que, ouve lá, salta um baita dog marado, todo chinado e bué ugly mêmo, que vira-se pa ela e grita:
- Yoo, tá td? Dd tc?
-Tásse... do gueto ali! E tu... tásse? - Disse a pita
- Yah! E atão, q se faz?
- Seca, man! Vou levar o pacote à velha que mora ao fundo da track, que tá kuma moka do camano!
- Marado, marado!... Bute ripar uma até lá?
- Epá, má onda, tázaver? A minha cota não curte dessas cenas e põe-me de pildra se me cata...
- Dasse, a cota não tá aqui, dama! Bute ripar até à casa da tua velha, até te dou avanço, só naquela da curtição. Sem guita ao barulho nem nada.
- Yah prontes, na boa. Vais levar um baile katéte passas!!!
E lá riparam. Só que o dog enfiou-se por um short no meio do mato e chegou à toca da velha na maior, com bué avanço, tázaver? Manda um toque na porta, a velha 'quem é e o camano' e ele 'ah e tal, e não sei quê, que eu sou a pita do gorro vermelho, e na na na...'. A velha abre a porta e PIMBA, o dog papa-a toda... Mas mesmo, abre a bocarra e o camano e até chuchou os dedos... O mano chega, vai ao móvel da velha, saca uma shirt assim mêmo à velha que a meca tinha lá, mete uns glasses na tromba e enfia-se no VL... o gajo tava bué abichanado mêmo, mas a larica era muita e a pita era à maneira, tásaver?
A pita chega, e tal, e malha na porta da velha.
- Basa aí cá pa dentro! - Grita o dog.
- Yo velhita, tásse?
- Tásse e tal, cuma moca do camâno... mas na boa...
- Toma esta cena, pa mamares-te toda aí...
- Bacano, pa ver se trato esta cena.
- Pá, mica uma cena: pa ké esses baita olhos, man?
- Pá, pa micar melhor a cena, tázaver?
- Yah, yah... E os abanos, bué da bigs, pa ke é?
- Pá, pa poder controlar melhor a cena à volta, tázaver?
- Yah, bacano... e essa cremalheira toda janada e bué big? Pa que é a cena?
- É PA CHINAR ESSE CORPO TODO!!! GRRRRRRRR!!!!
E o dog manda-se à pita, naquela mêmo de a engolir, né? Só que a pita dá-lhe à brava na capoeira e saca um back-kick mesmo directo aos tomates do man e basa porta fora! Vai pela rua aos berros e tal, o dog vem atrás e dá-lhe um ganda-baite, pimba, mêmo nas nalgas, e quando vai pa engolir a gaja aparece um meco daqueles que corta as cenas cum serrote, saca de machado e afinfa-lhe mêmo nos cornos. O dog kinou logo ali, o mano china a belly do dog e saca de lá a velha toda cheia da nhanha. Ina man, e a malta a gregoriar-se toda!!!
E prontes, já tá..."